ENTREVISTA
Raphael Montañez Ortiz
por Felipe Meres
ilustração Paulo Mendel
Após assistir ao artista plástico e professor Raphael Ortiz deixar uma platéia de connoisseurs perplexos em um dos debates da Art Basel no final do ano passado, tornei-me extremamente interessado em seus pensamentos e visões para o futuro da arte.
Com o tema da discussão “O Futuro do Museu”, quando perguntaram ao Ortiz o que ele pensava a respeito do assunto, ele prontamente levantou seu iPhone e afirmou “está aqui”. Após quentes argumentos entre os debatedores e o público, Ortiz deixou claro que acredita que o futuro do museu não será no mundo físico, mas em espaços virtuais.
A internet, telefones celulares e outros aparelhos tecnológicos ainda não desvendados que farão uso de tecnologias holográficas: para o artista, estes são os museus do futuro.
Tive a oportunidade de conversar com o Sr. Ortiz e entender um pouco mais de sua mentalidade futurística.
Felipe Meres: Eu gostaria de começar esta entrevista perguntando qual é o seu conceito de um museu portátil. Ele se relaciona de alguma forma com o de Duchamp?
Raphael Ortiz: Não, ele se relaciona com os avanços tecnológicos apresentados no filme I, Robot (Alex Proyas, 2004). Como no momento em que a imagem holográfica de um cientista fala com um policial cujo braço ele havia acabado de substituir por um braço robótico.
FM: O que você pensa sobre grandes instituições como o Louvre, MoMA e Tate estarem construindo novos museus em diversas cidades ao redor do mundo para exibir suas coleções? De certa forma, é como se eles tivessem tomado o caminho mais difícil e longo quando se tem o conceito de “museus portáteis” em mente. Há de fato uma necessidade em criar fisicamente novos museus quando existem formas mais práticas de fazer isso através da internet e outros meios virtuais?
RO: Pense neles como depósitos, como as tumbas egípcias que são o armazém do tesouro do Faraó.
FM: No debate sobre o Museu Portátil na Art Basel, quando você afirmou acreditar que o futuro de exposições e museus está nos celulares, o público reagiu com bastante estranhamento. Aparentemente as pessoas estão tão acostumadas a excitação de estarem perto de uma obra de arte e sua aura, como Walter Benjamin diria, que para alguns é inconcebível que um dia as pessoas visitarão exposições virtualmente. Porque você acha que isso acontece?
RO: Tecnofobia: Apenas as crianças e aqueles que choram em uma cena trágica de um filme conseguem entender a verdade sobre virtualidade: que toda percepção não se passa disso.
FM: Você tem idéias de como mudar esse cenário? Opiniões do que poderia ser feito para que pessoas deixassem sua tecnofobia de lado?
RO: Quanto tempo demorou para o rádio ser aceito, e o telefone, e os automóveis, etc., etc., etc. Isto irá mudar quando Hollywood for além do 3D e adentrar uma realidade holográfica.
FM: As pessoas ainda estão muito apegadas à fisicalidade dos objetos. Atualmente nós estamos passando por mudanças drásticas em relação a isso, especialmente no caso de material impresso. Embora as pessoas amem a praticidade de carregar todas as suas coleções de livro dentro de um gadget como o Kindle da Amazon, elas ainda não estão prontas para se desfazerem de suas prateleiras e mini-bibliotecas. Elas ainda querem tocar, sentir, ver seus livros em seus escritórios e salas de estar e poder mostrá-los para seus amigos e familiares. Você acha que essa situação é temporária?
RO: Lembre-se que apenas recentemente o dinheiro tornou-se digital – logo virtual. Dentro do mundo bancário e de investimento, embora haja muita desconfiança, nós chegamos em um momento da era digital em que ambos os mundos já são realidades virtuais. Em breve a arte, artistas e o público, como nos retratos no filme Harry Potter, terão uma consciência que vai além da virtualidade do holográfico e entra na moldura como no filme Pleasantville (Gary Ross, 1998).
FM: Também no debate da Art Basel, você mencionou como nossas vidas já são em grande parte virtuais – já que passamos horas em frente a computadores e televisões, com os olhos fixados em nossos celulares e no mínimo 30% dos nossos dias dormindo. Você acha que as pessoas tem noção disso? Você acha que este tempo virtual continuará crescendo?
RO: Deus deu à nossas espécies potencial de atingir a virtualidade, através da percepção, consciência do sonho e tecnologia. Esta virtualidade, com o tempo, dominará toda a realidade. Isto já vem acontecendo. É apenas uma questão de conteúdo e narrativa. Vale lembrar que a memória é virtual: os únicos livros “reais” são aqueles que ficam na cabeça de uma pessoa, como é o caso dos livros no filme Fahrenheit 451 (François Truffaut, 1966).
FM: Frequentemente eu ouço pessoas dizerem que elas queriam que seus filhos passassem mais tempo fora de casa praticando esportes ao invés de fazê-lo através de seus Wii’s. Embora elas estejam fazendo a mesma quantidade de exercício, já que é com a ajuda de um jogo virtual, parece não ser “bom o suficiente” ou até mesmo “real”. Pais querem que seus filhos sintam a terra em seus pés, vejam árvores e animais e passem mais tempo ao sol. Você acha que isso é apenas um ponto de vista romântico e anacrônico que deve ser descartado ou é uma preocupação valida?
RO: Uma vez na virtualidade, nós desenvolvemos uma novo padrão em que nossa mente é mais importante que a matéria. Assim como no filme Forbidden Planet (Fred M. Wilcox, 1956). Quando mente e corpo são todos parte da consciência. Esta pergunta traz bastante controvérsia…