Exposição de arte | 2015 | fotos de Daniel Daek |
CURADORIA
Marcio Debellian e Paulo Mendel assinam a curadoria artística da exposição REVERTA – Arte e Sustentabilidade na OCA – Museu da Cidade de São Paulo. Grandes nomes da arte contemporânea, como Jac Leirner, Lucia Koch, Guto Lacaz, Marilá Dardot, Mariana Manhães, Lenora de Barros, Brígida Baltar, Héctor Zamora, Opavivará!, Gisela Motta e Leandro Lima apresentam obras em grande dimensão para um público de mais de 40 mil pessoas.
A BlankTape pós-produziu uma série de vídeos para a exposição e ficou responsável pelos trabalhos que envolviam arte e tecnologia, como a instalação com sensores de movimento de Andrei Thomaz e o game Doti-Doti no Gaea do coletivo Loud Noises.
Ainda integram a lista de artistas, o poeta Augusto de Campos, os cineastas Esmir Filho e Marcos Prado, a performer e dramaturga Alessandra Colassanti, o fotógrafo Gregg Segal e os quadrinistas André Dahmer e Maurício de Sousa.
Há 100 anos, Marcel Duchamp estabeleceu o termo ready-made para os trabalhos artísticos que se apropriam de objetos industrializados. Na época do seu surgimento, a ideia funcionou como uma provocação e também como uma espécie de antídoto para a arte que privilegiava a imagem, mas não o conceito. As reações aos ready-mades foram polêmicas e, até mesmo em casa, Duchamp passou por situações inusitadas. Em troca de cartas com sua irmã Suzanne, ele a agradece pela limpeza do seu estúdio em Paris e comenta sobre novas criações com uma roda de bicicleta e um porta-garrafas. Mal sabia que os originais desses trabalhos haviam sido jogados fora durante a faxina. Para Suzanne, as peças que viriam a ser os primeiros ready-mades e alterariam a definição de arte estavam destinadas ao lixo. |
A exposição REVERTA – Arte e Sustentabilidade propõe um olhar transformador sobre o que passa despercebido em nosso dia a dia. Se, por um lado, a parte científica nos ampara com informações técnicas sobre reciclagem e o ciclo de vida dos produtos, o percurso artístico lança mão da capacidade de reinaugurar objetos do cotidiano por meio da arte. Não se trata de ready-mades, mas sim de trabalhos que encontram um novo lugar para aquilo que, supostamente, não teria mais espaço no mundo.
Assim podem ser vistas esculturas, instalações, vídeos e fotografias que abrem o percurso artístico no primeiro pavimento. A imaterialidade das novas mídias também integra esta área com criações de web arte e game design que evidenciam a relação direta entre consumo, nível socioeconômico, produção industrial e a pegada residual de cada um. Criações em quadrinhos ironizam os hábitos e exageros que acabam por lançar incertezas quanto ao futuro da nossa sociedade.
O segundo pavimento reúne trabalhos que se inspiram no poder de criação e transformação da natureza. Características como simplicidade e liberdade estão presentes nesse espaço, com referências ao modo de vida indígena e ao hippie, movimento de contracultura dos anos 1960 no qual a preocupação com questões ambientais começam a ser propagadas. As obras apresentadas funcionam individualmente, ao mesmo tempo em que podem ser compreendidas numa relação de interconexão, o que acaba por acrescentar uma nova camada de possibilidades à experiência do visitante. De certo modo, o percurso da exposição se encerra com um convite para que as pessoas se enxerguem como parte de um sistema complexo, dependente de um bem-estar comum e da harmonia entre nós e o meio em que vivemos.
Marcio Debellian e Paulo Mendel
INVISÍVEL | Documentário em 2 telas | 12′
Os curadores Marcio Debellian e Paulo Mendel também se juntaram para fazer um curta documental criado especialmente para a exposição. O curta foi pensado para dois projetores com o intuito de aproveitar ao máximo o efeito das paredes curvas do projeto expográfico da arquiteta Thereza Faria. Invisível reúne histórias e aprendizados de pessoas que trabalham pelas questões relacionadas ao descarte e reaproveitamento de resíduos.
SINOPSE
Uma catadora de resíduos puxa a sua carroça numa rua de Natal (RN) na companhia de seu filho. Um carro passa por ela e grita: “sai do meio, sua bandida!”. Esta mulher é Rosângela da Silva Marinho, recicladora que tirou do lixo o sustento para criar três filhos. Além dos materiais recicláveis que separava e depois vendia, ela encontrou livros, revistas e jogos eletrônicos que levava para estimular os meninos na busca por conhecimento.
O filho que a acompanhava no dia em que esta história ocorreu é Thompson Vitor, 15 anos, aprovado em 1o lugar no concurso do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN).
CONTEÚDOS PARA INTERNET
Mais 6 vídeos foram produzidos com depoimentos de especialistas e o material extra do curta metragem Invisível.
A exposição realizada pelo Instituto Abramundo ainda conta com uma parte educativa desenvolvida pelo curador científico Mario Donizeti Domingos, que explica a relevância do tema: “É curioso o fato de conhecermos parte do legado cultural de povos antigos porque estudamos os resíduos que eles deixaram ao longo de sua existência. Por outro lado, é assustador saber que estamos deixando um legado bem diferente para as gerações futuras; cada um de nós produz, em média, mais de 35 toneladas de resíduos ao longo da vida. A produção de resíduos está entre os principais problemas ambientais da atualidade.”.
São Paulo, Brasil.